Entre 1 e 31 de agosto (UTC), o mercado de criptomoedas apresentou divergências internas marcantes. O Bitcoin (BTC) iniciou o mês em alta, mas depois recuou, encerrando agosto com desvalorização de 6,15%. Já o Ethereum (ETH) demonstrou força e acumulou alta de 19,84%; Solana (SOL) e BNB também valorizaram 17,85% e 9,79%, respectivamente. No geral, observou-se uma tendência estrutural, com os investidores adotando postura mais cautelosa ao final do mês.
No mercado secundário, as ações relacionadas sofreram pressão mais intensa. MicroStrategy (MSTR), cuja estratégia central envolve reservas em Bitcoin, caiu 16,78% em agosto, desempenho inferior ao do próprio BTC. As ações ligadas à tesouraria e ao conceito Ethereum também experimentaram correções significativas.
O momentum on-chain não trouxe maior elasticidade de valorização para os papéis—levando a conexão cripto-ações a um momento de redefinição.
Agosto não teve alta sustentada. O BTC subiu e depois caiu, encerrando o mês negativo; ETH, SOL e BNB registraram ganhos com mesma dinâmica de “ascensão seguida por esfriamento”—movimentos de alta e posterior acomodação.
As ações reagiram com maior sensibilidade. Dois fatores se destacaram: primeiro, houve compressão dos prêmios de avaliação (a diferença entre o preço das ações e o valor líquido das reservas em cripto diminuiu ou virou desconto); segundo, aumentaram as expectativas de financiamento (o mercado teme novas emissões de ações ou debêntures conversíveis). A volatilidade on-chain é amplificada nos papéis, causando quedas mais acentuadas.
As instituições também adotaram postura mais cautelosa, comprimindo ainda mais a “imaginário” que sustenta o prêmio de avaliação. Segundo Barron’s, o analista Gus Galá, da Monness, Crespi, Hardt, rebaixou a recomendação da MSTR de Neutro para Venda em abril e a manteve com preço-alvo de US$175 em 21 de agosto, citando alta volatilidade e ciclicidade do Bitcoin, fragilidade patrimonial de compras alavancadas e risco de contração dos prêmios—na ocasião, MSTR negociava a aproximadamente 1,34x o seu valor patrimonial líquido. Para várias instituições, exposição direta a spot ou fundos regulados é preferível às incertezas de governança e diluição de capital—deixando as cripto-ações em desvantagem no prêmio.
O ponto decisivo não está nos preços dos tokens, e sim na capacidade de restabelecer o mecanismo de transmissão. No último mês, observou-se fricção simultânea nos canais de tesouraria, financiamento e operação.
Primeiro, avalie a transmissão via tesouraria. SharpLink (SBET) exemplifica bem: ao longo do mês, atualizou várias vezes suas reservas em ETH, realizou emissões at-the-market (ATM) para recapitalização e sinalizou recompra caso o preço da ação caísse abaixo do valor patrimonial líquido. Ao final de agosto, era a segunda maior empresa com reservas de ETH. Mesmo assim, o preço da ação não acompanhou a valorização do ETH, terminou o mês em queda e o valor de mercado ficou abaixo das reservas de ETH. Hoje, o mercado se preocupa mais com “como os ativos são detidos e geridos” do que apenas com “quanto é mantido”. Ter balanço robusto já não gera prêmio por si só.
Em segundo lugar, o financiamento agora atua contra as ações. O antigo enredo de “emitir ações para comprar tokens” não se sustenta mais. A ETHZ, por exemplo, divulgou reservas acima de US$349 milhões em ETH, mas planos de grande emissão de ações provocaram temor de diluição e forte queda do preço dos papéis. O financiamento passou a ser fonte de pressão negativa, e não de valorização das ações.
Por fim, transmissão operacional: mineradoras enfrentam pressão sobre margens, enquanto exchanges têm crescimento estagnado. Essas tendências fragilizam o elo entre o preço dos tokens e o valor das ações. O relatório do segundo trimestre da Coinbase aponta receita com negociações de cerca de US$764 milhões—queda próxima de 40% em relação ao trimestre anterior; a receita total caiu de US$2.034 bilhões no Q1 para US$1.497 bilhões no Q2, retração de 26,4%. Mesmo com alta de BTC e ETH, o desempenho operacional das exchanges ficou aquém, tornando difícil a valorização das ações.
Diante disso, emergem sinais típicos de ciclo tardio. Os ganhos em cripto tornam-se mais esporádicos e intermitentes, com menos fôlego. As ações continuam sendo o elo mais fraco—erosão dos prêmios, redução nos financiamentos e fundamentos atrasados antecipam o enfraquecimento dos papéis em relação aos tokens, reforçando o movimento de realização antecipada.
Para frente, mesmo que as empresas sigam comprando BTC/ETH, os retornos marginais devem convergir rapidamente para o valor patrimonial líquido, não para múltiplos prêmios das fases anteriores. Eis o dilema: o mercado vai restabelecer o mecanismo de transmissão ou haverá dissociação estrutural prolongada?
Em vez de buscar narrativas amplas, monitore três sinais cruciais:
1. Desconto mNAV: Ele vai diminuir ou voltar a ser prêmio em um prazo de 3–4 semanas?
2. Movimentações financeiras: Empresas vão moderar emissões ATM/conversíveis e priorizar recompras ou bloqueios para manter o NAV por ação “ancorado”?
3. Dados operacionais: Observe recuperação de taxas on-chain/volume negociado, melhora dos custos de mineração e avanço das receitas não relacionadas à negociação (derivativos/custódia) como parcela do total das exchanges.
Se ao menos dois dos três sinais se concretizarem, o vínculo cripto-ação pode ser restabelecido; caso contrário, a dissociação se aprofunda e as ações devem enfrentar quedas ainda mais acentuadas em períodos de correção.
Em resumo, o “arrefecimento” do mercado registrado no fim de agosto não foi casual, mas um evento de estresse sistêmico. Cabe aos investidores decidir se continuam apoiando empresas capazes de transformar “narrativas” em mecanismos concretos ou retornam a ativos nativos e veículos de alocação mais transparentes. Para o setor, é hora de reavaliar os modelos: as cripto-ações seguem como ponte para o grande capital ou vão desaparecer primeiro no próximo ciclo? O ponto de decisão chegou e o tempo para indecisão termina rapidamente.