DAOs explicadas: já estão entre nós as organizações do futuro?

As Decentralized Autonomous Organizations (DAOs) introduzem uma abordagem revolucionária à governação organizacional, rapidamente a consolidar-se no ecossistema das criptomoedas. Estas entidades distribuídas estão a transformar profundamente a forma como as comunidades se coordenam, tomam decisões e gerem recursos, substituindo as estruturas hierárquicas tradicionais. Compreender o significado das DAOs é fundamental para quem explora o futuro das organizações digitais e da governação baseada em blockchain.

O que é uma DAO?

Uma DAO é um grupo distribuído de pessoas que se unem para promover um objetivo ou interesse comum através de mecanismos de governação baseados em blockchain. O conceito de DAO abrange entidades que funcionam sem estruturas hierárquicas clássicas, recorrendo a smart contracts implementados em blockchains como a Ethereum para gerir relações entre membros e facilitar decisões comunitárias. Diferenciando-se das organizações tradicionais, marcadas por decisões de topo lideradas por diretores executivos, as DAOs inauguram um novo paradigma organizacional.

A principal inovação consiste na substituição dos contratos jurídicos por acordos digitais autoexecutáveis. Estes smart contracts delimitam o âmbito da governação comunitária, permitindo aos detentores de tokens apresentar propostas e votar parâmetros do protocolo. Por exemplo, na MakerDAO, titulares de MKR votam variáveis como as Stability Fees, garantindo a indexação da stablecoin DAI ao dólar americano. Quando as propostas alcançam o quorum pré-definido, as alterações são automaticamente implementadas através de smart contracts.

As DAOs desempenham múltiplos papéis no universo cripto, desde o investimento em arte digital à gestão de protocolos de finanças descentralizadas e prestação de serviços especializados. Segundo Cooper Turley, as DAOs são sobretudo uma forma de coordenar pessoas alinhadas para atingir objetivos comuns, cada uma com missões centrais distintas, à semelhança das empresas tradicionais. Esta versatilidade de propósito e estrutura é essencial para compreender o significado das DAOs no panorama da inovação organizacional.

Evolução das DAOs

A ideia de decisão descentralizada surgiu nos primórdios do blockchain, com Vitalik Buterin, cofundador da Ethereum, a escrever extensivamente sobre sistemas de governação distribuída em 2014. Definiu a DAO ideal como uma entidade que “vive” na internet, autónoma mas dependente de pessoas para tarefas que a automatização não resolve.

A primeira grande DAO da Ethereum, “The DAO”, foi lançada em 2016 enquanto experiência coletiva de investimento. No lançamento, uma falha crítica num smart contract foi explorada, levando à drenagem de cerca de 3,6 milhões ETH do tesouro. A resposta, polémica, envolveu o retrocesso da blockchain Ethereum, dividindo a comunidade e originando o hard fork entre Ethereum e Ethereum Classic.

Perante este revés, os programadores da Aragon Network dedicaram-se a criar ferramentas DAO seguras para evitar riscos semelhantes. Após o initial coin offering em 2017 e o lançamento na mainnet Ethereum em 2018, a Aragon apresentou soluções que simplificam a criação de DAOs. Em 2020, a própria Aragon passou a DAO, transferindo o controlo para a comunidade.

Nos anos seguintes, surgiram DAOs de referência como a Moloch DAO e infraestruturas de governação desenvolvidas por projetos como a Compound. O lançamento do Snapshot em 2020, criado pelos programadores da Balancer, trouxe a votação off-chain sem custos de gas, reduzindo barreiras à participação. A integração com a Gnosis Safe permitiu a execução direta de gastos do tesouro por votação, reforçando a funcionalidade DAO e ampliando o alcance prático do conceito nas operações quotidianas.

Vantagens da governação DAO

As DAOs apresentam vantagens claras face às estruturas organizacionais convencionais, esclarecendo o seu significado para além das definições técnicas. São radicalmente mais abertas e digitais, aproximando-se de democracias digitais em vez de empresas tradicionais. Enquanto entidades globais, acedem a mercados e talento internacional, mantendo-se centradas no universo cripto.

A distribuição de propriedade e poder assegura maior equidade, melhor recolha e tratamento de informação e decisões refletindo os interesses da comunidade. Este modelo exige menos confiança entre membros, capta talento qualificado graças à autonomia e flexibilidade, e permite a rápida integração de novos colaboradores. A liderança emerge de qualquer ponto da organização, sem imposição hierárquica.

A transparência constitui uma vantagem central no conceito DAO. O código open-source permite a qualquer pessoa auditar o funcionamento dos grupos. As participações em tokens são verificáveis on-chain, as votações são públicas e a utilização de tesourarias multiassinatura como a Gnosis reduz o risco de corrupção. Para protocolos concebidos como bens públicos, como o Ethereum Name Service, a governação DAO é especialmente adequada, assegurando diversidade de opiniões em detrimento da decisão individual.

Obstáculos enfrentados pelas DAOs

Apesar do seu potencial, as DAOs enfrentam desafios relevantes que continuam a moldar a sua implementação prática. A classificação legal permanece complexa, já que organizações internacionais e descentralizadas não se enquadram nos quadros vigentes. Sem registo formal, a legislação norte-americana classifica os participantes em DAOs como sócios gerais, potencialmente responsabilizando todos os detentores de tokens por obrigações financeiras. Existem opções como sociedades de responsabilidade limitada em jurisdições como Wyoming e Delaware, ou fundações, mas cada solução tem desvantagens fiscais e regulatórias próprias.

Também o enquadramento regulatório é desafiante. A SEC determinou que determinados governance tokens são valores mobiliários, levantando dúvidas sobre outros tokens de governação. A classificação depende do papel dos fundadores no potencial de lucro do projeto. Sem entidade jurídica formal, os membros das DAOs podem estar pessoalmente expostos a sanções regulatórias.

Os riscos de centralização subsistem, apesar do nome descentralizado, condicionando a aplicação do conceito DAO no mundo real. Casos como o AnubisDAO evidenciam vulnerabilidades quando contas de assinatura única controlam fundos relevantes. Até projetos estabelecidos mantêm riscos de centralização com poucos detentores de chaves de carteiras multiassinatura. Além disso, mecanismos atuais de votação com tokens têm sido criticados por figuras como Vitalik Buterin, que assinala conflitos de interesse e possíveis ataques de compra de votos à medida que o poder de governação se torna negociável.

Os desafios estendem-se à experiência do utilizador e à acessibilidade. Para muitos, compreender o significado de DAO e navegar pelos requisitos técnicos de participação continua a ser um obstáculo à adoção alargada.

Conclusão

As DAOs traduzem uma evolução relevante na governação organizacional, oferecendo transparência, tomada de decisão distribuída e exigindo menor confiança face às estruturas hierárquicas convencionais. O significado do conceito DAO vai além da definição técnica, traduzindo um novo paradigma de coordenação, governação e criação de valor coletivo na era digital.

Apesar de projetos como Aragon, Moloch e Compound terem estabelecido modelos de referência, e de ferramentas como o Snapshot terem facilitado a participação, subsistem desafios importantes. Questões de classificação jurídica, desafios regulatórios, riscos de centralização e vulnerabilidades associados ao voto por tokens terão de ser ultrapassados para que as DAOs realizem o seu potencial pleno.

Com o amadurecimento do ecossistema das criptomoedas e o surgimento de soluções inovadoras, as DAOs poderão afirmar-se como o modelo organizacional do futuro, revolucionando a coordenação e governação comunitária na era digital. Compreender hoje o significado das DAOs fornece uma perspetiva crucial sobre as estruturas que poderão dominar a economia digital do amanhã, tornando este conhecimento essencial para quem se interessa pelo futuro do trabalho, da governação e da organização comunitária.

FAQ

Qual é o significado de DAO?

As DAOs (Decentralized Autonomous Organizations) são entidades transparentes, baseadas em blockchain, regidas por regras codificadas e que operam sem autoridade central.

Para que servem as DAOs?

As DAOs servem para gerir protocolos de finanças descentralizadas, governar redes blockchain e viabilizar decisões coletivas através de votação baseada em tokens.

Qual é um exemplo de DAO?

A MakerDAO, que gere uma stablecoin, e a DASH, uma criptomoeda governada pelos seus utilizadores, são exemplos de DAOs.

O que significa a sigla DAO?

DAO significa Decentralized Autonomous Organization. Refere-se a entidades baseadas em blockchain, governadas por smart contracts e pela comunidade, sem autoridade central.