Ordinals: os novos NFTs na blockchain – guia para iniciantes

O protocolo Ordinals trouxe uma mudança disruptiva ao universo dos colecionáveis digitais, ao introduzir um sistema inovador que permite inscrever dados únicos diretamente na blockchain do Bitcoin. Esta tecnologia atribui identificadores próprios a cada satoshi — a unidade mínima do Bitcoin — com base na ordinal theory, originando artefactos digitais que funcionam de modo semelhante aos NFTs, mas integrados no ecossistema seguro e descentralizado do Bitcoin. Desde a sua criação, o protocolo Ordinals tem suscitado grande interesse e discussão na comunidade cripto, abrindo novas vias para a propriedade digital e a expressão criativa.

O que é a ordinal theory?

A ordinal theory define um método sistemático para numerar e rastrear satoshis individuais com recurso a números ordinais. Este sistema atribui a cada satoshi um identificador único, tendo em conta a ordem cronológica da sua mineração e transferências subsequentes em transações. A teoria contempla diversos formatos de representação, nomeadamente notações inteira, decimal, de grau e percentil, oferecendo formas flexíveis de expressar estes números ordinais.

Um elemento particularmente interessante da ordinal theory é o sistema de classificação de raridade, que atribui níveis de escassez aos satoshis com base em acontecimentos relevantes na história da rede Bitcoin. A hierarquia de raridade tem seis categorias: satoshis comuns, que são a grande maioria e aparecem quase em todas as transações; satoshis incomuns, correspondentes à primeira unidade de cada bloco, surgindo cerca de 144 vezes por dia; satoshis raros, que marcam o início dos períodos de ajuste de dificuldade a cada 2 016 blocos; satoshis épicos, que assinalam os epochs de halving a cada 210 000 blocos, aproximadamente a cada quatro anos; satoshis lendários, que representam o início de ciclos completos de mercado entre halvings; e, finalmente, o satoshi mítico, a raridade suprema — o primeiro satoshi do bloco Genesis, existente uma única vez na história do Bitcoin. Importa referir que Casey Rodarmor inscreveu arte pixelizada de uma caveira como genesis ordinal, criando um artefacto histórico que assinalou o início do protocolo Ordinals.

Como funcionam as inscrições Ordinals?

As inscrições Ordinals permitem aos utilizadores gravar conteúdo digital diretamente na blockchain do Bitcoin, criando registos permanentes e imutáveis semelhantes a NFTs, mas sem necessidade de tokens dedicados ou sidechains. O protocolo Ordinals possibilita a inscrição permanente de conteúdos como vídeos, arte digital e documentos de texto em satoshis individuais, formando artefactos digitais verificáveis que podem ser transferidos como transações Bitcoin comuns.

O funcionamento técnico baseia-se em scripts de gasto com taproot script-path, que armazenam o conteúdo inscrito totalmente on-chain de forma eficiente. Esta arquitetura garante autenticidade e permanência, uma vez que os dados inscritos não podem ser alterados nem removidos após o registo na blockchain. O conteúdo pode ser disponibilizado a partir de servidores web tal como páginas convencionais e até combinado com outras inscrições para criar artefactos compostos.

A criação de uma inscrição requer um processo de commit/reveal em duas fases. Primeiro, cria-se um output taproot que se compromete com um script contendo o conteúdo da inscrição. Depois, esse output é gasto para revelar o conteúdo na blockchain. O conteúdo é serializado utilizando “envelopes” — estruturas de dados que agregam conteúdo e metadados, facilitando o acesso por terceiros. Cada transação deve seguir rigorosamente as normas da ordinal theory para assegurar o correto rastreio e transferência dos satoshis inscritos no protocolo Ordinals.

Como criar uma inscrição Ordinal?

O processo de criação de inscrições Ordinals adapta-se ao nível de conhecimento técnico do utilizador. Para principiantes sem experiência em programação, existem plataformas que oferecem interfaces intuitivas e tratam de toda a componente técnica, permitindo ao criador focar-se na sua visão artística e no conteúdo, dentro do quadro do protocolo Ordinals.

Utilizadores intermédios, confortáveis com programação, podem recorrer a ferramentas como a Ordinals API disponível no GitHub. Há várias plataformas com APIs dedicadas a Bitcoin, apoiadas por comunidades de desenvolvimento ativas, que disponibilizam recursos e apoio à implementação do protocolo Ordinals.

Utilizadores avançados, com conhecimento aprofundado de programação, podem criar inscrições manualmente através de um processo estruturado. Isso implica selecionar o conteúdo, criar envelopes de dados com ferramentas próprias, gerar outputs taproot em carteiras Bitcoin compatíveis, transmitir transações à rede e, finalmente, revelar o conteúdo inscrito on-chain. Cada passo exige rigoroso cumprimento das regras da ordinal theory para garantir inscrições válidas e o correto funcionamento do protocolo Ordinals.

O lançamento das inscrições recursivas

A introdução das inscrições recursivas marcou um avanço importante, respondendo a desafios como as taxas de transação e limitações do espaço em bloco. Esta inovação permite que software avançado funcione integralmente na rede Bitcoin através da técnica de daisy-chaining, onde dados se interligam por chamadas sequenciais, ampliando as capacidades do protocolo Ordinals.

Antes, as inscrições tradicionais estavam limitadas a 4 MB de armazenamento, mas as inscrições recursivas eliminam este constrangimento ao criar redes de fontes de dados interligadas. Os programadores podem extrair e integrar dados de inscrições existentes em novas, superando as limitações de tamanho. Esta abordagem permite criar aplicações complexas inteiramente on-chain, encadeando dados por sequências de chamadas.

Com as inscrições recursivas, a interoperabilidade na rede Bitcoin foi significativamente reforçada, abrindo caminho para o desenvolvimento de novas aplicações com o protocolo Ordinals. No entanto, à medida que esta tecnologia evolui, é essencial que utilizadores e programadores aprofundem os seus conhecimentos antes de utilizarem inscrições recursivas, maximizando o potencial e reduzindo riscos.

Poderá o Bitcoin superar os NFTs de Ethereum em termos de domínio de mercado?

O protocolo Ordinals alcançou uma adoção considerável, com dezenas de milhões de inscrições registadas desde o seu lançamento. Este progresso levou à criação do Open Ordinals Institute, uma organização sem fins lucrativos sedeada na Califórnia, que financia programadores principais, incluindo o responsável anónimo Raph. O interesse crescente de compradores e vendedores mostra que os Ordinals do Bitcoin são já uma força competitiva no mercado de colecionáveis digitais.

O surgimento do protocolo Ordinals desafia a dinâmica tradicional do mercado de NFTs, criando um cenário em que o Bitcoin disputa quota de mercado no segmento de artefactos digitais. Esta concorrência pode beneficiar o universo dos colecionáveis digitais, estimulando a inovação e proporcionando aos utilizadores várias opções de plataformas para criar e negociar artefactos digitais via protocolo Ordinals.

Projetos DeFi no Bitcoin

A evolução do Bitcoin trouxe as inscrições e o protocolo Ordinals para o centro das atenções no setor das finanças descentralizadas. A comunidade cripto está a explorar aplicações destas tecnologias em projetos DeFi na rede Bitcoin, aproveitando inovações como a Lightning Network e o wrapped Bitcoin (wBTC).

A comunidade manifesta otimismo quanto ao potencial do protocolo Ordinals para ampliar as capacidades DeFi do Bitcoin. A tecnologia poderá viabilizar novos casos de uso e aplicações financeiras que aproveitam a segurança e descentralização do Bitcoin, acrescentando funcionalidades. Porém, como estas aplicações ainda estão em fase de desenvolvimento, o seu impacto final no ecossistema DeFi do Bitcoin permanece em aberto.

Uma comunidade Bitcoin dividida

A comunidade Bitcoin está profundamente dividida quanto ao protocolo Ordinals e ao seu alinhamento com os princípios basilares do Bitcoin. Os defensores advogam que o protocolo pode expandir a utilidade do Bitcoin para lá das transações, criando novos usos financeiros e fontes de receita para os participantes da rede. Consideram o Ordinals uma evolução natural que explora a robustez da infraestrutura do Bitcoin para aplicações inovadoras.

Pelo contrário, os críticos defendem que o protocolo Ordinals contraria a visão original de Satoshi Nakamoto, que via o Bitcoin como um sistema de dinheiro eletrónico entre pares. Os céticos alertam para o consumo excessivo de recursos da rede e para o aumento de taxas de transação, fatores que podem dificultar o acesso e comprometer a função principal do Bitcoin. Estas preocupações giram em torno das limitações de capacidade e de saber se o Ordinals é uma inovação positiva ou um desvio prejudicial do propósito do Bitcoin.

Face à evolução do protocolo e ao debate em curso, recomenda-se que potenciais participantes investiguem detalhadamente antes de se envolverem com o protocolo Ordinals ou procurarem satoshis valiosos. Conhecer ambas as perspetivas e riscos permite decisões fundamentadas neste cenário em constante evolução.

Novidades

Atualizações recentes vieram reforçar a acessibilidade e funcionalidade do ecossistema Ordinals. Várias carteiras já suportam o protocolo Ordinals, incluindo inscrições recursivas de múltiplas plataformas. Estas integrações permitem ligação a dispositivos Ledger via aplicações móveis ou extensões de navegador, possibilitando a gestão de Bitcoin, Ordinals e tokens BRC-20 em contas unificadas. As carteiras simplificam a gestão de endereços ao suportar Native Segwit e Taproot, além de exibir metadados detalhados dos Ordinals, nomeadamente números de satoshis e IDs de inscrições.

Entretanto, grandes detentores de Bitcoin anunciaram planos para desenvolver serviços de identidade descentralizada baseados em inscrições Ordinals. Estes serviços pretendem criar identidades descentralizadas, sem confiança e à prova de adulteração, explorando a segurança e imutabilidade da rede Bitcoin, o que demonstra o interesse empresarial no protocolo Ordinals e nas suas aplicações para além dos colecionáveis digitais.

Conclusão

O protocolo Ordinals representa uma evolução marcante nos colecionáveis digitais, ao introduzir formas inovadoras de criar artefactos digitais únicos na blockchain do Bitcoin. A ordinal theory dota cada satoshi de uma identificação única, permitindo inscrições criativas que vão da arte a estruturas de dados complexas. O sistema de raridade, que abrange desde os satoshis comuns ao mítico satoshi do bloco Genesis, cria múltiplas propostas de valor para colecionadores e investidores.

A chegada das inscrições recursivas ampliou de modo significativo o potencial de aplicações on-chain complexas via protocolo Ordinals, eliminando restrições anteriores e viabilizando sistemas interligados sofisticados. Apesar do interesse crescente e da competição no mercado de colecionáveis digitais, a comunidade Bitcoin mantém-se dividida quanto ao alinhamento do Ordinals com a visão fundadora do Bitcoin ou ao eventual impacto negativo em termos de consumo de recursos.

A integração do suporte ao protocolo Ordinals em várias plataformas, juntamente com o interesse de grandes detentores de Bitcoin, aponta para uma evolução e adoção contínuas. Apesar das preocupações quanto à capacidade da rede e ao respeito pela visão de Satoshi Nakamoto, o protocolo Ordinals abre portas relevantes à inovação no ecossistema Bitcoin. O desenvolvimento sustentável e a aceitação comunitária exigirão uma análise equilibrada dos benefícios e desafios à medida que a tecnologia amadurece.

FAQ

O que é o protocolo Ordinals?

O protocolo Ordinals atribui identificadores únicos aos satoshis individuais do Bitcoin, tornando-os distinguíveis e rastreáveis. Potencia o Bitcoin ao permitir a inscrição de ativos digitais na blockchain.

Qual a diferença entre NFT e Ordinals?

Os NFTs são ativos digitais únicos em várias blockchains suportados por smart contracts, enquanto os Ordinals são identificadores inscritos diretamente no Bitcoin, sem contratos inteligentes. Os Ordinals privilegiam a permanência; os NFTs oferecem mais funcionalidades programáveis.

Para que servem os Ordinals?

Os Ordinals permitem criar NFTs no Bitcoin, registando permanentemente ativos digitais únicos na blockchain e criando um novo mercado de NFTs baseados em Bitcoin.

Quais as críticas aos Ordinals?

Os Ordinals são criticados por ocuparem espaço em bloco, o que pode aumentar as taxas de transação e reduzir a eficiência da rede Bitcoin. Isto pode causar problemas de escalabilidade.